Novas decisões & Novos caminhos - 6º CAP. Esperança da Madrugada

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            Acho que minha mãe me conhece melhor do que eu mesmo me conheço, e confesso que até demorou para ela invadir o meu quarto e me tirar dos meus devaneios quanto a minha existência e os problemas que pareciam surgir como pragas em minha vida.

            A entrada dela foi súbita, D. Mariene, minha mãezinha, empurrou a porta sem pedir licença, sem perguntar se eu a queria por perto naquele momento e tudo que ela fez foi me abraçar. Me colocou no seu colo e me fez carinho, acho que assim como eu ela não conseguia dizer nada. As únicas palavras que ela conseguiu dizer foram...

“Vai ficar tudo bem minha menina, tudo isso vai passar.”

            Eu sei que diante disso eu deveria parar de chorar, eu deveria estar consolando ela, eu juro que queria cuidar dela agora, mas estou tão fragilidade com a infelicidade de tudo isso que as lágrimas incontrolavelmente despencam os meus olhos e os meus soluços se tornam o único som presente no meu quarto.

            Decido por um vago instante fechar os olhos e tentar me concentrar em algo, tudo que eu consigo enxergar é a madrugada e por quantas vezes na confusão do meu ser eu fui consolada, alguém que me ouvia todas as madrugadas enxugava as minhas lágrimas e cuidava de mim. Eu precisava ser forte e dessa vez não só por mim, mas por minha mãe também.

            Levantei os olhos e tudo que eu vi foi a fragilidade de uma mulher que lutava pela estabilidade do seu lar, e foi então que eu percebi o quanto eu amo minha mãe e o quanto eu quero ajuda-la. Eu olhei nos seus olhos e com toda a coragem que me invadiu, eu disse:
“Mãe, eu sei que vai ficar tudo bem. E a partir de agora estamos juntas nessa, não vou te deixar sozinha. Vamos começar de novo e faremos isso quantas vezes forem necessárias, até que haja segurança e paz em nossos corações. Eu te amo, infinitamente eu te amo, e a partir de hoje as coisas vão mudar.”

            A abracei forte, e assumi uma postura que até então era desconhecida para mim. Conversei um pouco com minha mãe, para lhe dar a certeza que estava tudo bem, e corri para o banho, me arrumei como a tempos não fazia. Escolhi uma roupa que me passasse segurança profissional, e parti em busca do meu novo recomeço, de novos capítulos para mim e para minha mãe.

            Eu precisava passar na empresa para recolher minhas coisas, e resolver alguns detalhes sobre a demissão. Eu decidi que entraria lá não como uma pessoa derrotada, mas como alguém ciente de que era apenas o começo de uma história fantástica que eu estava disposta a escrever.

            Entrei na 5ª Avenida sorrindo, falei com todos que eu conhecia e depois de recolher minhas coisa fui direto para sala do Lucas. Acho que assim que ele me viu bateu um certo arrependimento por ter me demitido.

            Sentei na sua frente e tratei como uma reunião de negócios o que tinha para dizer, falei da minha experiência ao trabalhar na empresa e do meu ponto de vista quanto a liderança dele, tratamos dos últimos aspectos financeiros referentes a minha demissão. E então, quando eu estava abrindo a porta para sair, ele falou:

“Boa sorte Maju, tenho certeza que ainda vou ouvir falar sobre você”

            Eu sorri, acenei com a cabeça e sai. Nunca estive tão feliz com quem eu estava sendo, a postura e decisões que estava tomando. E estava só começando, ainda precisava resolver algumas coisas.

            Sai da 5ª Avenida direto para o banco. Minha intenção era fazer uma transação, transferir todo o meu dinheiro, será difícil, mas a partir daquele momento eu iria poupar todo o dinheiro que eu pudesse, um sacrifício válido para os meus novos planos.

            Depois de conversar com meu gerente, fui direto ao escritório do meu pai, como todos me conheciam não precisei me identificar ou perder tempo esperando que ele aceitasse me receber. Assim que entrei na sala dele, sentei e esperei que ele parasse o que estivesse fazendo para olhar para mim, acho que pelo meu olhar ele já tinha entendido porque estava ali.

            Assim que ele me olhou eu disparei, fui sincera e esperei de todo o coração que meu pai não deixasse de me amar por essa atitude, mas eu estava prezando pelo que tinha restado do meu lar. E sem visíveis mudanças prefiro que ele esteja longe de mim e da minha mãe.

            Tudo que eu disse com certeza foi de encontro ao ego do meu pai. E o seu olhar de tristeza por pouco não me fez desistir. Pedir que meu pai saísse de casa e começasse uma vida sem nós, foi como rasgar parte de mim, mas eu não podia recuar. Não agora.

            Respirei fundo e pedi que ele estivesse em casa para o jantar, para que pudéssemos conversar os 3 em busca de uma solução menos impactante para todos, ele concordou e eu sai o mais rápido possível de lá, tudo que eu não podia fazer era chorar.

            E de repente me encontro na minha ultima grande decisão. Entro no carro decidida, mas com medo, meu coração está tão machucado, mas eu não posso deixar que ele continue sendo saco de pancadas de pessoas que não se importam comigo, e me tratam como o incomodo de suas vidas.

            Dirijo até a casa do Fernando, lutando contra os sentimentos que ainda relutavam no meu coração. Ele estava do lado de fora, sentado na escada, quando me viu chegar imediatamente ficou de pé, a surpresa dele foi maior do que a surpresa do meu pai ao me ver no escritório. Acho que ninguém esperava essa nova Maju.

            Desço do carro, determinada e decidida, sem demonstrar qualquer possível alteração na minha decisão. Começamos a conversar e eu deixei claro para ele que meus sentimentos ainda existiam, mas que eu não aceitava mais ser a segunda opção e ficar presa a um presente que anula o meu futuro. Ele apenas concordava com a cabeça e me deixava falar.

            Assim que eu conclui, me despedi do Fernando, ele segurou o meu pulso, tentou me puxar para o que acredito eu ultimo beijo, mas isso não aconteceu. Consegui me soltar e fui para casa, sem olhar para trás, sem dar esperança de retorno.

            Quando entrei no carro as lágrimas começaram a cair, finalmente eu podia chorar, finalmente eu podia deixar o meu lado fraco e sempre presente na minha vida se manifestar. Chorei e sorri. Foi misto bom, me senti livre e leve. Estava voltando para casa com uma alegria no coração que não sentia a muito tempo.


            Sei que a noite ainda conversarei com meus pais sobre a nossa família e essa talvez seja a parte mais dolorosa do dia, mas agora me contento a paz que sinto no meu coração depois de tanta confusão.

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